Translate

quarta-feira, 20 de julho de 2016

INSTITUTO IKTUS

Núcleo de Psicanálise Clínica

RENATA ZANGERÓLAME DE OLIVEIRA





TRABALHO SOBRE FUNDAMENTOS DA TÉCNICA PSICANALÍTICA



MÓDULO XII
PRÁTICA DA CLÍNICA PSICANALÍTICA





CACHOEIRO DE ITAPEMIRIM
ESPÍRITO SANTO
2016
RENATA ZANGERÓLAME DE OLIVEIRA



TRABALHO SOBRE FUNDAMENTOS DA TÉCNICA PSICANALÍTICA

 MÓDULO XII
PRÁTICA DA CLÍNICA PSICANALÍTICA





                                        Trabalho apresentado ao curso de psicanálise
            Clínica Iktus – Instituto Iktus
                                    Como requisito parcial à obtenção do título
Psicanalista Clínico
                                                          Professor: Dr. Willian Vicente Borges












PRÁTICA DA CLÍNICA PSICANALÍTICA

Refletir sobre a evolução da teoria e prática psicanalítica a partir da experiência freudiana é avaliar a nossa própria posição frente a uma obra que, sabemos, recebeu de seu autor uma elaboração histórica fundadora. O corpus freudiano não se constitui, contudo, num sistema teórico, ao menos não para o psicanalista que, despojado de vocação acadêmica, se deixa interrogar pelo texto teórico a partir de sua clínica e de sua própria análise.
“O CONSULTÓRIO É AONDE TODA A VIDA DO ANALIZANDO É EXPOSTA DE FORMA NÃO A DEFINIR O QUE ELA FOI MAS SIM O QUE ELA SERÁ. MAS COM CERTEZA ESTA SÓ SERÁ REVELADA ANALISANDO O QUE DE FATO ELA FOI. E ESTE “DE FATO” SUGERE UMA PERCEPÇÃO CLARA DO ANALISTA. “E É ISTO QUE O PACIENTE ESPERA.” (prof. Dr. William Vicente Borges).
O paciente ao entrar em um consultório de psicanálise, seja sozinho ou mesmo auxiliado por alguém está em busca de respostas para algo que o atormenta, sabe-se a quanto tempo e mesmo que este ofereça resistência diante de seu psicanalista, um a vez que falar de si mesmo, expor-se para outra pessoa não é uma tarefa fácil para quem quer que seja, esta pessoa procura de alguma forma por socorro, Necessita de alguém que lhe indique um caminho, não importando o que ela foi ou mesmo se tornou, mas sim o que será dela de daquele mo9mento em diante,quando decide colocar-se a frente de um profissional que até então é um estranho de decide expor-se como se este fosse sua tábua de salvação.
A psicanálise ainda como “Arte da Interpretação”, desenvolver-se-á em torno desse ponto nodal: a idéia psicanalítica da determinação do sintoma numa operação psíquica de defesa que caberá ao procedimento artístico revelar. A Interpretação dos atos falhos, dos sonhos, dará uma vasta abrangência a esse ponto de vista pelo qual a lógica da operação do sintoma foi reconhecida. “Os atos falhos e atos fortuitos devem ser compreendidos como os sintomas dos neuróticos” (Freud, 1923/1985a, p.56). Ainda no mesmo artigo, resumindo sua obra maior, “A interpretação dos Sonhos”: “Valeria a pena penetrar mais adiante na elucidação dos sonhos, pois o trabalho analítico mostrou que a dinâmica da formação do sonho é a mesma que a da formação do sintoma. Em ambos reconhecemos um antagonismo de duas tendências, uma inconsciente, geralmente recalcada, que visa a satisfação – realização de desejo – e, outra pertencendo verdadeiramente ao eu consciente, que recusa e recalca.
A conexão entre teoria dinâmica e procedimento leva Freud a reconhecer que: O caráter de desconhecido, o estranho, o absurdo do sonho manifesto são por um lado a conseqüência da transposição dos pensamentos do sonho em um outro modo de expressão que é preciso qualificar de arcaico, mas de outro, pelo efeito de uma instância de limitação e de recusa crítica, que mesmo durante o sonho não é jamais abolida. Não temos dificuldade de supor que “a censura do sonho”, que tornamos responsável num alto grau pela deformação dos pensamentos do sonho em sonho manifesto, é uma exteriorização das mesmas forças psíquicas que ao longo do dia tinha sido mantida de lado, recalcada, a moção inconsciente de desejo. (Freud, 1923, p. 59).
Se nos estendemos na apreciação no artigo do qual se destaca a clássica definição da psicanálise foi para sublinhar a conexão entre procedimento e teoria aí proclamada por Freud. No entanto, é na intimidade do texto freudiano e, ainda mais em seus momentos de maior alcance especulativo, que essa conexão afirma-se com toda sua eloqüência.
Abordar o tema proposto: “A evolução da teoria e prática psicanalítica. Da experiência de Freud aos nossos dias.” Levou- nos, de início a refletir sobre o sentido de evolução no âmbito do texto freudiano. O texto de 1919, Wege der psychoanalytyschen therapie, traduzido pela Standart Edition por Lines of advance in Psychoanalytic therapy, recebeu inicialmente em português uma versão influenciada pela Standard: “Linhas de avanço na terapia psicanalítica”, sendo substituída na tradução de Paulo César Souza por “Caminhos da terapia analítica, mais próxima do original.”A formulação de Freud ,“caminhos”, mais precisamente exprime o sentido em que poderíamos conceber a evolução da teoria e prática.
Analisaremos agora uma outra visão do processo analítico, a saber, um exemplo de reação terapêutica negativa como progresso terapêutico, onde uma pessoa adentra em um consultório de psicanálise e queixas-se de um intenso vazio que nada consegue preencher. O indivíduo parece determinado em ressaltar seu fracasso, reagindo negativamente a qualquer apelo terapêutico, nesse sentido o profissional a sua frente também encontrasse meio que sem ação, sem saber ao certo como agir, uma vez que qualquer interferência parece aumentar ainda mais sua amargura e frustração. Mesmo diante de inúmeras tentativas muitas são as negativas e o ambiente tornas-se pesado e desconfortável. Como falar de funcionamento mental, de pensamento, quando este sofreu uma mutação em órgão corporal? Não se trata de imputar ao analisando déficits de função metabólica. A evocação do órgão retira a possibilidade de aceitar que a transferência possa ser representada em termos de uma relação pessoal. Ingênuo seria para o psicanalista pensar  que o impasse que se desenrolava naquele momento, por outro lado, seria ultrapassado através daquilo que pudesse ser conscientemente evocado dos meus afetos em relação ao paciente como numa espécie de auto-análise. Ou ironizando como Pontalis, ao “fazer-me plenamente consciente de meu inconsciente” (Pontalis, 1975, p.74).
Diante da lembrança deste artigo o profissional de psicanálise ali presente diante daquela situação consegue de certa forma posicionar-se, uma vez que o analisado de maneira desconcertante tenta desvencilhar-se de sua seção admitindo não saber o que fazia naquele lugar. Diante desta fala o psicanalista encontra uma resposta precisa, onde afirma nem terem chegado ao sentido daquela situação. No dia seguinte, ao chegar Paulo diz (de imediato, o que é surpreendente com relação ao ritmo arrastado habitual de sua fala) que retomara um quadro que estava abandonado (há anos, momento em que desistira da atividade artística). Passa a descrever cuidadosamente as linhas, as manchas, o percurso e o ritmo das pinceladas a configurar o que, dificilmente um olhar desavisado reconheceria na tela: “autoretrato: um homem morto ou adormecido”, diz. Fédida encontra na reação terapêutica negativa a natureza e a função do processo. Ela é o que de mais íntimo pertence à teoria do sintoma, opondo-se aos ideais de cura (progresso) sustentados pelo analista, dá acesso a um processo transferencial intrapsíquico. “Como se o sintoma comportasse um objeto psíquico interno reativado a partir do momento em que o analista estaria prestes a abandonar o seu lugar e que consiste em sustentar a neutralidade? (Fédida, 1995, p.216) É preciso que a insistência do sintoma chegue a um paroxismo em que os ideais de cura sustentados pela analista sejam abandonados, e que a angústia possa ser utilizada em contato com o material psíquico dentro do qual o sintoma constrói a sua escavação: a angústia na contratransferência serve assim à análise ultrapassando a resistência. A sessão com Paulo vai ao encontro desse pensamento freudiano: os desejos que se apresentam nos sonhos não são sempre desejos atuais. Eles podem ser desejos desfalecidos, prescritos, recobertos e recalcados, aos quais nós devemos atribuir contudo, pelo simples fato de sua emergência no sonho, uma espécie de existência prosseguida. Eles não são mortos como os defuntos segundo o conceito que deles temos, mas como as sombras da Odisséia que, desde que beberam o sangue, despertam para uma certa vida.” (Freud, 1899-1900/2005, p. 289).
Fazendo menção da negatividade que permite a leitura do sintoma na transferência, podemos dizer que o fragmento de análise apresentado testemunha uma condição crítica na contratransferência a partir da qual é possível acompanhar um movimento de desinstauração-reinstauração da situação analítica. A condição de dissimetria que é essencial. à atividade analítica é reconquistada no interior de um processo em que o sintoma instalou-se numa modalidade de reação terapêutica negativa. Reconhecemos, a posteriori, a paralização contratransferencial como resistência, da parte da analista, em abandonar a óptica contratransferencial (simetrizante) impossibilitada de ultrapassar a excessiva visibilidade manifesta do sintoma, no caso, o reconhecimento da reação terapêutica negativa com ênfase na (re)ação negativa como oposição à ação do analista. O impasse contratransferencial, atravessado na análise de Paulo, poderia também ser descrito como impedimento de uma abertura ao trabalho de luto, trabalho de perlaboração, contra-investimento mantido pela intensidade das forças transferências em jogo na cena analítica. Tomada no sentido de crise, o trabalho da contratransferência é reconhecido ao mesmo tempo no sentido de uma resistência assim como recurso que sinaliza uma região crítica, obscura, do contato com as camadas informes do psíquico mantido fora do domínio da linguagem. É como trabalho subterrâneo silencioso de escavação que o negativo da reação terapêutica negativa, tal como se exprime no presente, no atual do sintoma, dá lugar ao reconhecimento de sua arquitetura transferencial ao aceder à uma condição de enunciação. Tocar o morto é despertá-lo num lento processo de descongelamento (evocando aqui a metáfora do estado glacial que Freud no seu manuscrito não publicado identificou na conformação da neurose (Freud 1914-1915/1986b) numa abertura temporal ao trabalho de perlaboração das transferências que implicadas pelo tempo (anacrônico) que forma o sintoma. O trabalho analítico é feito de uma escavação surda num terreno adormecido a que a contratransferência dá acesso. É trabalho de reanimação de um fóssil cuja leitura dá voz ao sintoma. “Tocar o morto é despertá-lo”, disse Paulo quando sua fala, saída de seu sono vazio de eternidade, animou-se do desejo nascido da aceitação de uma lei: “Não há objeto do desejo: o homem é que é desejante!” (David-Ménard, 1983, p. 249).


Obs: Muito embora não tenha sido pedido, achei o assunto muito interessante e desta forma fiz um resumo sobre ele. Agradeço a compreensão.


Nenhum comentário:

Postar um comentário