INSTITUTO
IKTUS
Núcleo
de Psicanálise Clínica
RENATA
ZANGERÓLAME DE OLIVEIRA
TRABALHO
SOBRE FUNDAMENTOS DA TÉCNICA PSICANALÍTICA
MÓDULO
XII
PRÁTICA
DA CLÍNICA PSICANALÍTICA
CACHOEIRO
DE ITAPEMIRIM
ESPÍRITO
SANTO
2016
RENATA
ZANGERÓLAME DE OLIVEIRA
TRABALHO
SOBRE FUNDAMENTOS DA TÉCNICA PSICANALÍTICA
MÓDULO XII
PRÁTICA
DA CLÍNICA PSICANALÍTICA
Trabalho apresentado ao curso de psicanálise
Clínica
Iktus – Instituto Iktus
Como
requisito parcial à obtenção do título
Psicanalista Clínico
Professor: Dr. Willian Vicente Borges
PRÁTICA
DA CLÍNICA PSICANALÍTICA
Refletir sobre a
evolução da teoria e prática psicanalítica a partir da experiência freudiana é
avaliar a nossa própria posição frente a uma obra que, sabemos, recebeu de seu
autor uma elaboração histórica fundadora. O corpus freudiano não se constitui,
contudo, num sistema teórico, ao menos não para o psicanalista que, despojado
de vocação acadêmica, se deixa interrogar pelo texto teórico a partir de sua
clínica e de sua própria análise.
“O CONSULTÓRIO É
AONDE TODA A VIDA DO ANALIZANDO É EXPOSTA DE FORMA NÃO A DEFINIR O QUE ELA FOI
MAS SIM O QUE ELA SERÁ. MAS COM CERTEZA ESTA SÓ SERÁ REVELADA ANALISANDO O QUE
DE FATO ELA FOI. E ESTE “DE FATO” SUGERE UMA PERCEPÇÃO CLARA DO ANALISTA. “E É
ISTO QUE O PACIENTE ESPERA.” (prof. Dr. William Vicente Borges).
O paciente ao entrar
em um consultório de psicanálise, seja sozinho ou mesmo auxiliado por alguém
está em busca de respostas para algo que o atormenta, sabe-se a quanto tempo e
mesmo que este ofereça resistência diante de seu psicanalista, um a vez que
falar de si mesmo, expor-se para outra pessoa não é uma tarefa fácil para quem
quer que seja, esta pessoa procura de alguma forma por socorro, Necessita de
alguém que lhe indique um caminho, não importando o que ela foi ou mesmo se
tornou, mas sim o que será dela de daquele mo9mento em diante,quando decide colocar-se
a frente de um profissional que até então é um estranho de decide expor-se como
se este fosse sua tábua de salvação.
A psicanálise ainda
como “Arte da Interpretação”, desenvolver-se-á em torno desse ponto nodal: a
idéia psicanalítica da determinação do sintoma numa operação psíquica de defesa
que caberá ao procedimento artístico revelar. A Interpretação dos atos falhos,
dos sonhos, dará uma vasta abrangência a esse ponto de vista pelo qual a lógica
da operação do sintoma foi reconhecida. “Os atos falhos e atos fortuitos devem
ser compreendidos como os sintomas dos neuróticos” (Freud, 1923/1985a, p.56).
Ainda no mesmo artigo, resumindo sua obra maior, “A interpretação dos Sonhos”:
“Valeria a pena penetrar mais adiante na elucidação dos sonhos, pois o trabalho
analítico mostrou que a dinâmica da formação do sonho é a mesma que a da
formação do sintoma. Em ambos reconhecemos um antagonismo de duas tendências,
uma inconsciente, geralmente recalcada, que visa a satisfação – realização de
desejo – e, outra pertencendo verdadeiramente ao eu consciente, que recusa e
recalca.
A conexão entre
teoria dinâmica e procedimento leva Freud a reconhecer que: O caráter de
desconhecido, o estranho, o absurdo do sonho manifesto são por um lado a
conseqüência da transposição dos pensamentos do sonho em um outro modo de
expressão que é preciso qualificar de arcaico, mas de outro, pelo efeito de uma
instância de limitação e de recusa crítica, que mesmo durante o sonho não é
jamais abolida. Não temos dificuldade de supor que “a censura do sonho”, que
tornamos responsável num alto grau pela deformação dos pensamentos do sonho em
sonho manifesto, é uma exteriorização das mesmas forças psíquicas que ao longo
do dia tinha sido mantida de lado, recalcada, a moção inconsciente de desejo.
(Freud, 1923, p. 59).
Se nos estendemos na
apreciação no artigo do qual se destaca a clássica definição da psicanálise foi
para sublinhar a conexão entre procedimento e teoria aí proclamada por Freud.
No entanto, é na intimidade do texto freudiano e, ainda mais em seus momentos
de maior alcance especulativo, que essa conexão afirma-se com toda sua
eloqüência.
Abordar o tema
proposto: “A evolução da teoria e prática psicanalítica. Da experiência de
Freud aos nossos dias.” Levou- nos, de início a refletir sobre o sentido de
evolução no âmbito do texto freudiano. O texto de 1919, Wege der
psychoanalytyschen therapie, traduzido pela Standart Edition por Lines of
advance in Psychoanalytic therapy, recebeu inicialmente em português uma versão
influenciada pela Standard: “Linhas de avanço na terapia psicanalítica”, sendo
substituída na tradução de Paulo César Souza por “Caminhos da terapia analítica,
mais próxima do original.”A formulação de Freud ,“caminhos”, mais precisamente
exprime o sentido em que poderíamos conceber a evolução da teoria e prática.
Analisaremos agora
uma outra visão do processo analítico, a saber, um exemplo de reação terapêutica
negativa como progresso terapêutico, onde uma pessoa adentra em um consultório
de psicanálise e queixas-se de um intenso vazio que nada consegue preencher. O
indivíduo parece determinado em ressaltar seu fracasso, reagindo negativamente
a qualquer apelo terapêutico, nesse sentido o profissional a sua frente também
encontrasse meio que sem ação, sem saber ao certo como agir, uma vez que
qualquer interferência parece aumentar ainda mais sua amargura e frustração.
Mesmo diante de inúmeras tentativas muitas são as negativas e o ambiente
tornas-se pesado e desconfortável. Como falar de funcionamento mental, de
pensamento, quando este sofreu uma mutação em órgão corporal? Não se trata de
imputar ao analisando déficits de função metabólica. A evocação do órgão retira
a possibilidade de aceitar que a transferência possa ser representada em termos
de uma relação pessoal. Ingênuo seria para o psicanalista pensar que o impasse que se desenrolava naquele
momento, por outro lado, seria ultrapassado através daquilo que pudesse ser
conscientemente evocado dos meus afetos em relação ao paciente como numa
espécie de auto-análise. Ou ironizando como Pontalis, ao “fazer-me plenamente
consciente de meu inconsciente” (Pontalis, 1975, p.74).
Diante da lembrança
deste artigo o profissional de psicanálise ali presente diante daquela situação
consegue de certa forma posicionar-se, uma vez que o analisado de maneira
desconcertante tenta desvencilhar-se de sua seção admitindo não saber o que
fazia naquele lugar. Diante desta fala o psicanalista encontra uma resposta
precisa, onde afirma nem terem chegado ao sentido daquela situação. No dia
seguinte, ao chegar Paulo diz (de imediato, o que é surpreendente com relação
ao ritmo arrastado habitual de sua fala) que retomara um quadro que estava
abandonado (há anos, momento em que desistira da atividade artística). Passa a
descrever cuidadosamente as linhas, as manchas, o percurso e o ritmo das
pinceladas a configurar o que, dificilmente um olhar desavisado reconheceria na
tela: “autoretrato: um homem morto ou adormecido”, diz. Fédida encontra na
reação terapêutica negativa a natureza e a função do processo. Ela é o que de
mais íntimo pertence à teoria do sintoma, opondo-se aos ideais de cura
(progresso) sustentados pelo analista, dá acesso a um processo transferencial
intrapsíquico. “Como se o sintoma comportasse um objeto psíquico interno
reativado a partir do momento em que o analista estaria prestes a abandonar o
seu lugar e que consiste em sustentar a neutralidade? (Fédida, 1995, p.216) É
preciso que a insistência do sintoma chegue a um paroxismo em que os ideais de
cura sustentados pela analista sejam abandonados, e que a angústia possa ser
utilizada em contato com o material psíquico dentro do qual o sintoma constrói
a sua escavação: a angústia na contratransferência serve assim à análise
ultrapassando a resistência. A sessão com Paulo vai ao encontro desse
pensamento freudiano: os desejos que se apresentam nos sonhos não são sempre
desejos atuais. Eles podem ser desejos desfalecidos, prescritos, recobertos e
recalcados, aos quais nós devemos atribuir contudo, pelo simples fato de sua
emergência no sonho, uma espécie de existência prosseguida. Eles não são mortos
como os defuntos segundo o conceito que deles temos, mas como as sombras da Odisséia
que, desde que beberam o sangue, despertam para uma certa vida.” (Freud,
1899-1900/2005, p. 289).
Fazendo menção da negatividade
que permite a leitura do sintoma na transferência, podemos dizer que o
fragmento de análise apresentado testemunha uma condição crítica na
contratransferência a partir da qual é possível acompanhar um movimento de
desinstauração-reinstauração da situação analítica. A condição de dissimetria
que é essencial. à atividade analítica é reconquistada no interior de um
processo em que o sintoma instalou-se numa modalidade de reação terapêutica
negativa. Reconhecemos, a posteriori, a paralização contratransferencial como
resistência, da parte da analista, em abandonar a óptica contratransferencial
(simetrizante) impossibilitada de ultrapassar a excessiva visibilidade
manifesta do sintoma, no caso, o reconhecimento da reação terapêutica negativa
com ênfase na (re)ação negativa como oposição à ação do analista. O
impasse contratransferencial, atravessado na análise de Paulo, poderia também
ser descrito como impedimento de uma abertura ao trabalho de luto, trabalho de
perlaboração, contra-investimento mantido pela intensidade das forças
transferências em jogo na cena analítica. Tomada no sentido de crise, o
trabalho da contratransferência é reconhecido ao mesmo tempo no sentido de uma
resistência assim como recurso que sinaliza uma região crítica, obscura, do
contato com as camadas informes do psíquico mantido fora do domínio da linguagem.
É como trabalho subterrâneo silencioso de escavação que o negativo da reação
terapêutica negativa, tal como se exprime no presente, no atual do sintoma, dá
lugar ao reconhecimento de sua arquitetura transferencial ao aceder à uma
condição de enunciação. Tocar o morto é despertá-lo num lento processo de
descongelamento (evocando aqui a metáfora do estado glacial que Freud no seu
manuscrito não publicado identificou na conformação da neurose (Freud
1914-1915/1986b) numa abertura temporal ao trabalho de perlaboração das
transferências que implicadas pelo tempo (anacrônico) que forma o sintoma.
O
trabalho analítico é feito de uma escavação surda num terreno adormecido a que
a contratransferência dá acesso. É trabalho de reanimação de um fóssil cuja
leitura dá voz ao sintoma. “Tocar o morto é despertá-lo”, disse Paulo quando
sua fala, saída de seu sono vazio de eternidade, animou-se do desejo nascido da
aceitação de uma lei: “Não há objeto do desejo: o homem é que é desejante!”
(David-Ménard, 1983, p. 249).
Obs: Muito embora não
tenha sido pedido, achei o assunto muito interessante e desta forma fiz um
resumo sobre ele. Agradeço a compreensão.
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