O
sonho de Eduardo
Como voar sem deixar-se levar pelo sabor do vento?
Muitos não conseguiriam, mas Eduardo deixa-se levar pela imaginação aonde quer
que esteja. Sempre pensava consigo mesmo, sentado ao pé do morro perto de sua
casa, pés descalço, pipa colorida nas mãos esperando os amigos para mais uma
tarde de brincadeiras. – “Ainda vou ser doutor, ajudar as pessoas que precisam
de médico, mas não tem como pagar, principalmente minha mãe que sempre reclama
de dores nas costas de tanto fazer faxina na casa das madames”. É certo que não
seria nada fácil, ele bem sabia, por ter uma vida simples, morando em uma casa
pequena, seu pai desempregado e cansado de procurar trabalho e não encontrar.
Podia ver a tristeza em seu rosto quando chegava em casa depois de mais um dia
de busca. Mais um dia isso mudaria se formaria doutor e tirava todo mundo do
morro, iriam para a cidade, morar em uma casa grande e bonita e com um chuveiro
quente. Seria o fim dos banhos frios que faziam com que ele se encolhesse e
batesse os dentes todas as noites antes do jantar. Assim Eduardo voava em seus
pensamentos e planos, pois embora fossem poucos os recursos, sua família era
lutadora, não tinham medo do amanhã e do trabalho. Faziam questão que ele
estudasse. Incentivo não faltava e ele se esforçava na escola. Sentia orgulho
de si ao ver o sorriso no rosto cansado de sua mãe, quando lhe apresentava as
notas. Seus amigos já o chamavam de doutorzinho, de tanto ouvi-lo falar de seus
sonhos e dos episódios que assistia na TV de 14 polegadas que seu pai com tanto
sacrifício comprara de seu Joca que morava ao lado. Embora fosse de segunda mão
a TV funcionava muito bem. Eduardo ainda mergulhado em seus pensamentos, já
imaginava como seria seu consultório, com uma placa bem grande e bonita na porta,
em que se lerá “Dr. Eduardo’, e para deixar a placa ainda mais bonita, será
escrito em baixo “Médico do povo”. Ainda não havia escolhido sua especialidade,
sabia apenas que seria médico, o médico do povo. Estava ele com seus
pensamentos ao pé do morro, quando de repente o vento começou a soprar forte.
Eduardo sente uma mão em seu ombro, é Pedrinho que o desperta de seu sonho para que juntamente com
seus amigos possam iniciar a brincadeira. Com um sorriso Eduardo levanta-se e
junta-se aos amigos, erguendo sua pipa aos céus. Tudo bem, ele já sonhou, já
sabe o que quer. Que a pipa alce grandes vôos, colorindo os céus, porque esse
sonhador agora com os pés no chão, já sabe aonde quer chegar. Ele sonha
independente do tempo e do vento, enquanto a vida segue seu curso.
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